Espinheiro


Cruz d’Espinheiro.


Melros estridentes cruzam os bicos sobre pinheiros frondosos e cheiros fortes, instam os borrachos tardios ao voo; estes, dos nichos pendurados nos arbustos, dir-se-ia que protestam as censuras dos progenitores enquanto tudo mais cala em tarde de lua longa.

Findo o rumor perturbante do dia, reaparecem, mais sinceros os silêncios do lobo, encontrava-se preso num espinheiro que lhe perfurava a pele e perturbava o espírito, paralisava-o até aos mínimos movimentos que se esgotara de planear, os seus esforços ainda tinham enterrado mais profundamente os espinhos.

Deitou-se exausto na mais cómoda posição que conseguiu, o ocaso fitava-o na silhueta projectada pela cruz de espinhos. Saídos das sombras os esquivos morcegos fazem as primeiras aparições perseguindo vorazmente as presas, no desalinho do pelo do jovem lobo e nas feridas vivas, formigas e insectos insistiam em dilatar a dor e as feridas ensanguentadas.

Deixara a alcateia pela primeira vez, procurando caçar sozinho, as lições aprendidas com a mãe não incluíam a forma de se livrar de uma prisão feita com materiais naturais mas colocada ali intencionalmente por alguém que invejava os espíritos livres dos animais selvagens, os homens de Murmansk na longínqua Sibéria Ocidental supunham que a sua força e virilidade dependia directamente do número de lobos mortos e usavam-lhes as peles e caudas como troféus de adorno.

Enquanto os espinhos se afincavam em não dar tréguas, com uma teimosia exasperante, Os pirilampos servem de consolação ao triste lobo , que os vê ,lentamente, rodopiarem em seu redor e elevarem-se ,até se confundirem com a aparição das primeira constelações ,nos céus cada vez mais escuros mas em testemunhos silenciosos de milhões e milhões de estrelas.

Com os pirilampos partem também os últimos e lampejantes sinais dos espíritos selvagens e parte porém mais uma esperança dos homens em conviverem com o Planeta, que o Homem não pense que pode viver órfão da mãe natureza e do Pai Universo.



Jorge Santos

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